O universo da música produz belezas incríveis para os ouvidos sensíveis... e também para os olhos. A forma dos instrumentos musicais, em especial os de corda, é um deleite para quem assiste à apresentação de uma orquestra. A arte permeia a produção do som e se faz presente desde a fabricação dos instrumentos, no ofício do Luthier.
Luthier é o artesão, o artista da luteria – ou da arte de construir instrumentos de corda. Tarefa que geralmente é passada de geração a geração, de pai para filho, e que requer um vasto conhecimento e apuro. Saber escolher a melhor madeira, estar atento às conseqüências da umidade, entender um pouco da linguagem musical, ter um ouvido sensíveis são requisitos básicos do ofício da luteria. São esses parâmetros e outros tantos que vão favorecer a sonoridade de um violino, um violão, um e outros instrumentos.
Arte que resiste ao tempo
Atividade centenária, a luteria encanta quem descobre as poucas oficinas que existem na cidade. Há sem falar das principais escolas de luteria do mundo: Itália, França, Bélgica, Hungria, Holanda, Alemanha. E o que não faltam são lendas em torno do processo de trabalho de cada um deles.
Algumas delas dão conta de que o segredo do grande fabricante de violino, Antonius Stradivarius (1644 -1737), ou como era chamado em Cremona, Itália, Antonio Giacomo Stradivari, era o verniz que passava nos instrumentos, com cinzas vulcânicas.
Segundo consta, esse ingrediente tornava a madeira mais dura e, conseqüentemente, cello, um contrabaixo, uma violaluthiers famosos na história que vieram melhorava a sonoridade. Outra versão diz que o artesão selecionava as madeiras que usava de navios naufragados. Elas teriam mais dureza e resistência por terem ficado em contato com a água salgada por muitos anos. Nenhuma dessas histórias foi comprovada cientificamente, mas não importa. A sutileza do som dos instrumentos Stradivarius é indiscutível e se perpetua.
Entre 1700 e 1720, auge de sua carreira, o que foi discípulo de Nicoló Amati, outro mestre da luteria italiana, fabricou cerca de mil deles (quais 650 chegaram até os nossos dias).
Se os instrumentos resistem ao tempo, as técnicas de fabricação, também. Ao entrar em uma oficina de luteria, das raríssimas que temos aqui no Rio, percebemos que ali o trabalho minucioso do artista se impõe a qualquer modernidade de equipamentos. “É um artesanato fino que requer muito conhecimento e estudo, e onde a evolução técnica se faz presente mais nos materiais usados, em ferramentas, do que no processo de fabricação propriamente dito, totalmente manual”, observa Nilton de Camargo, luthier, Músico violista por formação, ele estudou na Scuola Internazionale de Liuteria de Cremona, Itália. Lá ele construiu a sua própria oficina de produção que, hoje, tem uma filial no Largo de São Francisco de Paula, no Centro do Rio, e atende, junto com a mulher, Melissa Ferraz, que há 25 anos fabrica instrumentos Designer orquestras nacionais que o procuram em busca de manutenção para seus instrumentos.
Luthier Rogério dos Santos.
Com apuro e muita sensibilidade esse carioca, que teve a sua formação feita na Oficina-escola de Luteria, montada pelo mestre Guido Pascoli. Bem-estar do Menor (Funabem), se dedica ao ofício desde os 17 anos. Seu conhecimento de marcenaria, tipos de madeira e das diferentes sonoridades associadas a elas é vasto. Hoje, aos 39, ele tem uma equipe trabalhando na oficina, também no Largo de São Francisco de Paula. Lá, entre máquinas que ele mesmo construiu, muitas ferramentas especiais – a maior parte importadas –, pois aqui não há tradição de luteria, ele fala com propriedade das madeiras que usa. “Para o tampo do violão, não há madeira mais adeqüada do que o pinho europeu. Ela tem os veios, as fibras bem juntas e uma maleabilidade que favorece à vibração”. Para as laterais e para a parte de trás do instrumento, o nosso jacarandá é insubstituível, segundo Rogério. “A madeira é cara, de difícil aquisição e controlada pelo Ibama, mas vale à pena pagar caro, porque o resultado faz diferença”, observa. Na verdade, neste ofício, tudo faz diferença quando se quer fabricar um instrumento com um som impecável.
Fonte:Matéria completa no site: http://portalmultirio.rio.rj.gov.br/portal/_download/revista60.pdf